QUANDO SUA MAJESTADE CHEGOU A VILA DO CONDE

"Quando sua majestade chegou a Vila do Conde esperava-o uma pompa singular. Era uma delicadeza da câmara. Estavam na estrada, formados em alas, respeitáveis – 160 bois.(…)
Oh! bois!
Ah! Se por acaso sua majestade el-rei viajasse pela aldeia, numa digressão agrícola, a pé, seria pitoresco, de uma bela e nobre simplicidade, fazê-lo entrar nos prados, entre as possantes juntas de bois suados do trabalho. Mas numa estrada, numa viagem politica, numa recepção oficial, os bois misturados com as autoridades, a anca do
Ruço roçando a farda do senhor administrador, a cauda do
Ligeiro fustigando a Suiça do senhor recebedor da Fazenda!... Dir-se-ia que os bois faziam parte da deputação da vila, e que quando o senhor presidente da Câmara, na sua alocução, disse
nós, se referia – às autoridades e ao gado: e certificava ao rei que era bem recebido e querido – dos cidadãos e dos bois.
Se por acaso, porém, os bois estavam ali como ornato, arrebique, com a mesma intenção com que estariam arcos de buxo, parece-nos imprudente da parte de Vila do Conde substituir as grinaldas de verdura – por animais de carne. É inconveniente adornar uma estrada com carne crua. Pode ser um funesto exemplo. A vila seguinte, querendo rivalizar em galas, pode adornar as ruas com carne cozida. E encetando-se estes festejos de carne, pode suceder, desastradamente, que no futuro, numa povoação exaltada – em lugar de atirarem a sua majestade flores, lhe atirem almôndegas!" -
excerto: Uma Campanha Alegre