« Home | PROCISSÃO A NOSSO SENHOR DOS NAVEGANTES » | JOVEM, COMEÇA HOJE A TUA FESTINHA!(Clicar na image... » | DOMINGO CELESTIAL » | INCÊNDIOS » | BLOGOSFERA POVEIRA » | BOM FIM-DE-SEMANA » | ORGANIZAÇÃO » | PÓVOA INGRATA » | ORA TOMA! VOCÊS LÁ PERCEBEM DE ARQUITECTURA! » | UNDER PRESSURE » 

terça-feira, agosto 08, 2006 

SPEAKERS' CORNER

(Espaço do Antivilacondense feito pelos leitores)

Olá K...
Sendo eu uma frequentadora da praia da Senhora da Guia (agora sem me atrever a entrar na água, pois ainda não percebi qual será a qualidade da água de uma praia que está entre uma em que aparecem peixes mortos e outra "interdita a banhos") ao ler o post Quem sabe Pacheco lembrei-me do início do quarto capitulo do livro que agora ando a ler...


Como se fosse ontem.

"Lembro-me como se fosse ontem porque, naqueles tempos, os safios e os meros, entre outros peixes, começaram a morrer e toda a gente se mostrava assombrada, porque toda a costa se ia enchendo de meros e safios, além de outros peixes, e ninguém sabia ao certo o que estava a acontecer, porque deixavam as profundidades onde viviam para vir morrer à superfície, porque sim, sem razão suficiente ou motivo aparente.

Lembro-me como se fosse ontem porque não se falava de outra coisa e toda a gente dizia isto e aquilo sobre o mesmo tema, os pobres peixes, até se explicou aquela mortandade inaudita inventando todo o tipo de dislates, até que uns cientistas ingleses, procedentes da ilha Maior, onde se encontravam a recolher amostras da fauna endémica, se deslocaram, todos curiosos, ao mar das Calmarias para dizer, depois de muito sisudo matutar, que os peixes tinham flatulências, isto é, peidinhos a encher-lhes as barrigas e que tanto ar deslocado os fazia flutuar e voltar a flutuar e os arrancava dos seus esconderijos profundos e os elevava até à superfície marinha e ali ficavam a flutuar e a voltar a flutuar e a deixarem-se morrer, porque as suas guelras não conseguiam respirar devidamente assim expostos ao sol, porque nem alimentar-se podiam, coitados, com as suas barbatanas esforçando-se lentamente por nadar, como espaventos, últimos adejos, tentando meter as cabeças na profundezas marinhas que lhes davam guarida e abrigo. Sem a menor timidez ou vacilação, foi isso que devem ter anotado nos seus cadernos, flatulências provocadas pela mutação de uma alga, peidos que os faziam flutuar, tal como disseram assim digo eu." - in “A ilha de Campiro”, Victor Álamo de la Rosa, cap.4, pags.41 e 42 – casa das letras.

Cristin@